Escola Básica da Solum

Workshops at Escola Básica da Solum

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6/03/2020                                      1st grade

Workshop 6 March 2020





Uma sala cheia de criatividade e compreensão, by Graça Cunha

Parecem imagens de um filme de outros tempos, mas na verdade são do dia 6 de março deste ano de 2020, numa sala de aula da Escola Básica da Solum, no centro da cidade de Coimbra. Imagens de outros tempos porque estamos perante vinte e quatro crianças do primeiro ano, que por uma manhã trocaram as contas e a leitura por outras aprendizagens que incluem pedaços de cartão, papel, tachas, tintas coloridas e muita criatividade. No final percebemos que nos brinquedos mecânicos que desafiaram estas crianças por uma manhã, estão lá pedacinhos de leitura, de contas, das aprendizagens que a Professora tem protagonizado e outras tantas que trazem de fora e lhes permitiram concretizar e personalizar com orgulho a obra feita.

Auto Stem faz nascer brinquedos que mexem

Na rotina normal daquela turma do 1º ano a matemática ditaria a tarefa do início da aula. Mas aquela acabaria por ser uma manhã bem diferente. Os vinte e quatro alunos olhavam curiosos para as três estagiárias da licenciatura de Ciências da Comunicação, da Faculdade de Psicologia, acompanhadas da Professora Piedade Vaz, coordenadora do Projeto Auto Steam. Curiosidade que rapidamente se transformou em cumplicidades produtivas.

A professora da turma fez as apresentações e, apesar de se confessar preocupada com o cumprimento do currículo, cedeu por umas horas o lugar para que os seus alunos pudessem experienciar aprendizagens que não estão nos livros. Esse é um dos desafios do projeto Auto Steam, coordenado pela Universidade de Coimbra, no âmbito Erasmus, e que reúne parcerias com mais quatro países: Reino Unido, Bulgária, Noruega e Itália.

O desafio passa por envolver as crianças do primeiro ciclo na construção de brinquedos que mexem, feitos com materiais simples e reutilizáveis. Parece um contrassenso, em tempos de brincadeiras quase em regime de exclusividade no mundo digital e eletrónico. Mas foi possível testemunhar a facilidade com que as estagiárias do projeto captaram a atenção e receberem, em troca, empenho e criatividade por parte daquelas crianças de seis anos, dispostas a fazer de uma tesoura de cartão, sugestivamente chamada crocodilo, e de uma caixa de cartão, elefantes, planetas, regadores, dinossauros vermelhos, flores e outras imaginações.

B e N são colegas de carteira e apresentaram-se como as melhores amigas. Envolvidas na construção dos respetivos brinquedos mecânicos, revelaram que “foi fácil e difícil”, mas o que acharam mais divertido foi ver que quando mexem uma parte do brinquedo, as outras mexem também. Mais atrás o Manuel está contente pois “não é preciso dinheiro para comprar estes brinquedos” e vai fazer um igual em casa, para a irmã porque “a mãe nem sempre tem dinheiro para comprar brinquedos novos”, rematou exatamente deste modo.

 A professora, sempre atenta, ia-lhes acompanhando os comentários e partilhou que o programa é extenso e, por isso, tem pena de “não ter tempo para explorar mais estas áreas”. Os dezoito anos de experiência, e as várias escolas por onde já passou, dão-lhe créditos para afirmar com certeza “a importância de ter na escola pessoas diferentes, a partilhar atividades desta natureza, dar simultaneamente aos alunos a oportunidade de descobrir e de se descobrirem”. Acrescentou que também é importantes as crianças “mostrarem que são boas nestas atividades”. P juntou-se à conversa para dizer que não tem pincéis em casa, por isso pinta com cotonetes, e para nos explicar que a professora lhe ensinou a fazer contas com um cesto imaginário onde põem e tiram ovos, imaginários também.

Enquanto o fundo da sala de aula se ia enriquecendo com novos personagens feitos de cartão, cores e imaginação, fomos ouvindo I. dizer que gosta muito “de ser criativo e de ter as mãos sujas”, MJ revelar que pintou com as mãos e  D passar, em segundos, da angústia de ter pintado a cara do seu macaco ao contrário, para a alegria de perceber que, afinal, o seu brinquedo era diferente e único, no meio de todos os outros dos colegas.

(Graça Cunha – Ensaio de Reportagem de ambiente – retrato da perspetiva dos alunos do 1º ano da licenciatura em Ciências da Educação, Faculdade de Psicologia, Universidade de Coimbra que acompanharam o projeto no dia 5/3/2020 na Escola B1 da Solum – Coimbra)